terça-feira, 25 de agosto de 2009

La Vie en Rose

Darkness, darkness everywhere, do you feel all alone?
The subtle grace of gravity, the heavy weight of stone

Ana Clara se sentou num banco da praça. Aquele era um dia de inverno muito bonito, céu limpo, dia frio, e um belo pôr-do-sol logo alí, em frente… assim, quando se olhassem, o sol não machucaria seus olhos. Aquele dia merecia aquele banco da praça. Aquele dia também merecia o cachecol listrado, combinando com as meias listradas por cima da meia-calça. “Hoje é um dia bom pra listras, ela gosta de listras…”, pensou. Abriu sua bolsa, pegou o celular e lhe deu três toques, que significavam “estou na praça” (Quatro toques seriam “pra atender”; Dois, “apareça JÁ no MSN”; Um, “Fofoca, te conto quando te encontrar”).

Ah, sim, a praça…de fato, a praça não era uma praça qualquer. Não, não, elas não se conheceram lá…bem, talvez, num sentido meio não-direto…elas conversam muito lá, então aquela é a praça de “conversar muito”, e longas conversas sempre são boas pra conhecer pessoas, mesmo que um pouco mais. Então sim, elas se conheceram naquela praça. Além de ser magnificamente perto da casa de ambas e mais parecer um parque esquecido pelo resto da humanidade e civilização, tendo uma grande opção de bancos e paisagens estranhas e curiosas pra se ver, é claro.

Enfim… Ela se sentou, pegou uma maçã e esperou ela chegar. Quando ela jogava fora o resto na lixeira lá perto, ela a viu. Por alguma razão, Ana percebeu que sua amiga tentava afastar uns insetos do cabelo. “Shampoo doce, provavelmente…”, ela pensou. Sentou-se, virou para sua amiga e disse:

- Você pediu pra eu vir pra cá e chegou atrasada, Clarisse.

- Oi pra você também, Ana C.

Clarisse…estava excepcionalmente avoada, abanando os mosquitinhos (“Meu Deus…não me diz que isso são vaga-lumes!”, pensou Ana Clara.) das suas orelhas, um olhar distante e ela tinha as unhas pintadas de... azul? Só mesmo essa sua amiga para pintar as unhas de azul e se sentir bem com isso.

- Viu? Essas...coisas..me seguindo…Sabe, eu acho que eu não sei bem porque eles estão me seguindo. Na verdade, eu sei sim.

Clarisse explicou que, um dia desses, numa ressaca, via luzinhas e o tempo parou. Descobriu que as luzinhas eram esses mosquitos que a seguiram desde então, e o tempo parou porque um moço com chapéu os tinha libertado de uma lanterna estranha, depois a olhou engraçado e a chamou de Maria.

- Nossa, e quando foi isso?

- Há um tempão…

- …Vaga-lumes vivem tanto?

- Eu não sei…

- ... Ahhh…E você viu o moço do chapéu alguma outra vez?

- Ah, vi sim, outro dia…

- Aaaah….tá…

Um vaga-lume se escondeu nos cabelos de Clarisse quando ela decidiu parar de espantá-lo. Elas dividiram coisas pra comer que Clarisse tinha comprado, e também as coisas que Ana Clara preparou pra trazer.

- Você está de listras…

- Você gosta de listras…era uma surpresa, gostou da surpresa?

- Ah, a Valéria me falou que você viria assim.

- …Meu Deus, nunca mais peço nada pra Valéria.

[...]

Um outro dia, a mesma praça.

Clarisse pensou que talvez Ana C. precisasse de uma injeção de bom humor, usou a blusa preta que usava naquele aniversário e sorriu o se lembrar daquele dia. 3 toques pra sua amiga e caminhou em direção à praça. No caminho, ela pensou em como foi duplamente boa a escolha daquela blusa em especial. Não eram nem 10 horas da manhã e sua amiga realmente odeia acordar cedo e aquilo distrairia a atenção dela. Ela pensou também em como parecia meio ridícula, usando saltos as 10 horas da manhã. Quando chegou escolheu um banco perto de uma árvore. O dia estava nublado e ventava um pouco, mas a árvore bloqueava grande parte da brisa, Clarisse limpou as folhas do banco e se sentou. Alguns outros vaga-lumes estavam no seu cabelo agora. Avistou Ana Clara andando devagar com passos curtos. “É, ela tá fula comigo…” pensou. Ao se aproximar, Ana sorriu e riu um pouco.

- Eu lembro dessa blusa.

- Eu lembro desse dia!

- Eu não poderia esquecer, afinal, não era eu que pensava que estava sonhando. Mas... Meu Deus, Clarisse, SALTOS! Você não está com frio nos pés???”. Ela colocou as pernas da amiga no colo e os cobriu com o casaco.

- É… saltos… eles ficam bem em mim?

Ela se sentou. Suspirou e disse que parecia que estava apaixonada, mas não sabia dizer. Apesar de saber que o número de cicatrizes no coração de sua amiga deveriam tê-la ensinado como reconhecer o sentimento, Clarisse continuou a ouvir. Na verdade, reconheceu Ana, talvez fosse passageiro, mas ela não sabia.

- E isso precisa de mim?

- SIM! Como eu posso me apaixonar por alguém tão bobo assim?

- The Lovecats, do The Cure.

- Você gosta de The Cure.

- Eu sei que gosto. - E Clarisse entendeu que logo passaria. Mas ficou feliz, Ana Clara era o tipo de pessoa que transformava qualquer coisa em algo magnificamente único, e dessa vez era algo bom. Numa vez anterior, na mesma praça, Ana Clara fez algo ser magnificamente único e ruim. Desde então Clarisse sempre espera que novidades boas venham para a praça com sua amiga.

- Pois é…E esses vaga-lumes?

- Vão muito bem…

- Algo novo?

Clarisse contou sobre os vaga-lumes e tudo o que eles tinham mostrado pra ela, coisas tão diferentes que ela talvez nunca tivesse vistou ou ouvido. sobre lugares distantes e talheres incomuns…quadros, tapetes, reuniões, museus…e muitas, muitas paisagens…Não, ela nunca conseguiria mostrar tudo o que viu, mas tentou. Ana Clara ficou feliz por ela.

[...]

Uma noite, longe da mesma praça, Ana Clara dormia e recebeu os 3 toques, bastante assustada. Se vestiu com pressa e encontrou uma chorosa Clarisse, sem vaga-lumes em volta dela.

- O que aconteceu?

Clarisse contou que os vaga-lumes tinham a levado pro topo de uma enorme escada e desaparecido, e ela chorava muito quando um homem veio e disse que eles não voltariam mais. Contou que ela o seguiu pelas escadas e viu o seu chapéu, e que ele tinha uma lanterna com vaga-lumes dentro.

- Eu acho injusto.

- Por quê?

- Se ele ia tomar os vaga-lumes, por que os deu, pra começo de conversa?

Então Ana Clara abraçou Clarisse e levou ela pra casa. No caminho contou como sentia medo de ser cruel com as pessoas às vezes, e como era triste o fato de às vezes pessoas irem embora, também falou de como os olhos de Clarisse ficam bonitos quando ela chora.

- Parecem mais claros. Mas eu não gosto das olheiras.

[...]

Um dia qualquer, elas se encontram na rua. Clarisse parece ser seguida por borboletas dessa vez. Ana Clara ri da situação.

[...]

Três toques.

Era uma manhã de sol suficientemente convidativa pra Ana Clara ter acordado bem disposta. Preferiu uma saia.”e botas de combate”, pensou, “ela gosta das minhas botas de combate.”. Quando se conheceram, ela usava essas botas. Não tinham nada demais, mas lembravam coturnos e combinavam com a maior parte das saias dela, mas Clarisse tinha um carinho especial por elas. Decidindo comer seu café da manhã na praça, fez qualquer coisa e enfiou na bolsa.
Clarisse estava sentada num banco na parte alta. Dava pra ver uma avenida logo abaixo, com uns prédios no fundo e algumas casinhas também. Elas gostavam excepcionalmente do cor-de-rosa e “daquele-que-parece-um-bolo”, costumavam a encará-los quando o assunto morria ou mastigavam qualquer coisa, geralmente quando se encontravam sem nenhuma razão. Clarisse mantinha as mãos juntas como se nelas segurasse um objeto bem pequeno que tinha medo de perder. Não haviam insetos. Ana sentou-se ao lado dela e a olhou, não precisou perguntar.

- Eu roubei

- O que?

- Um vaga-lume... eu roubei! Acho que ele não percebeu, mas deu por falta depois. Ah, eu ri da cara dele, e disse que não ia devolver! Você deveria ter visto!

Ana Clara sorriu. Sabia que mais cedo ou mais tarde aquilo aconteceria. Ela ouvia a amiga reclamar da falta que os vaga-lumes faziam, e como queria que eles voltassem. Não disse nada.

Pegou o que tinha trazido e comeu. Clarisse guardou o precioso ser de volta num potinho bastante delicado, e comeu também. Houve esse grande momento se silêncio que fazia com que Ana sempre olhasse como o mundo em sua volta estava naquele momento tão maravilhosamente quieto. E viu centenas de milhares de vaga-lumes passeando, em pontos que Clarisse certamente não veria. “Amiguinhos, ela não vai ver vocês aí, sabe? Ela é bastante desligada.” Pensou. “mas duvido que seja isso que vocês queiram.”

- O que você tá olhando, Ana C.?

-… Nada… oras.

[...]

Texto por Luiza Moucachen Sant'anna.

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